Os 20 anos de "Encontros e Desencontros" (Lost in Translation)
AVISO: CONTÉM SPOILERS.
“Encontros e Desencontros” está completando 20 anos. Meu Deus, como o tempo voa! (assisti no cinema do Shopping Crystal aqui de Curitiba, que exibia filmes fora do convencional, aqueles “fora da caixinha” - outro do Bill que assisti lá foi o excelente “Flores Partidas”). Nada mais justo do que fazer uma homenagem e escrever algumas palavras a respeito deste filme que, mesmo tão simples (SIMPLICIDADE é a palavra que resume o filme), conversa com o íntimo daqueles que abraçam as ideias que ele transmite.Capa do DVD original.
Acredito que nenhum de vocês assistiu a esse filme. Então, se a curiosidade bater, já aviso: não é uma comédia como é vendida por aí, nem é comédia romântica (muito menos um romance). É um drama existencial (posso dizer que é um uma história de amor sem romance, com toques de comédia (não à toa que Bill Murray foi escalado. Seu humor ácido e autêntico é único, e não consigo imaginar Bob Harris interpretado por outro ator) É, antes de tudo, um filme sobre o tédio, a solidão, o isolamento do homem moderno.
A doce Charlotte (Scarlet Johansson, antes do estrelato).
Vamos então à história. Bob Harris (interpretado pela lenda viva chamada Bill Murray) e Charlotte (a graciosa Scarlett Johansson, com apenas 18/19 anos, e já arrebentando) são dois americanos em Tókio. Bob (que outrora havia sido um grande astro do cinema) está na cidade, para filmar um comercial de uísque. Charlotte está apenas acompanha o marido, John, um fotógrafo. Bob e Charlotte estão hospedados no mesmo hotel e não se conheciam, mas dividem o mesmo tédio das horas que custam a passar. Bob (cuja vida profissional e pessoal estão em crise) passa quase todo o seu tempo livre no bar do hotel. Charlotte (formada em filosofia) passa as horas olhando pela janela de seu apartamento. Ambos sofrem com a insônia e estão perdidos, cada um ao seu modo (quer mais vazio do que estar rodeada de gente, e ainda sim sentir-se só???). Até que um dia eles se conhecem no bar do hotel, iniciando uma improvável amizade e um novo mundo surge para ambos. Aquelas duas vidas, antes tomadas pelo aborrecimento, ganham novas perspectivas. Nasce entre Bob e Charlotte uma amizade mágica, uma cumplicidade raramente vista, uma nova forma de ver a cidade e suas vidas.
Companheirismo. |
Um gigante gentil. |
A cumplicidade entre Bob e Charlotte mostra que há pessoas que aparecem em nossas vidas apenas por um curto período de tempo, mas que nos tocam profundamente, nos ensinando muitas coisa, nos ajudando a superar algo. Os momentos que Bob e Charlotte compartilharam foram inesquecíveis para ambos, ajudaram a amenizar a dor que cada um sentia. O difícil é quando esse período acaba. Mas é aí onde mora uma das belezas da vida: sabermos valorizar os momentos que tivemos, pois eles foram eternos enquanto duraram. Aquilo que Bob sussurrou no ouvido de Charlotte (algo que nunca saberemos) é um profundo sinal de esperança, reforçado pelos sorrisos que floresceram nos lábios de ambos.Bob Harris no programa do Jô SoaLes do Japão.
A emblemática (e divertida) cena do hospital.
“Encontro e Desencontros” é um poema audiovisual sobre a vida e as escolhas que fazemos. Mesmo após 20 anos, é um filme atual e contemplativo. Um filme sobre pessoas reais, sobre dores reais, sobre o poder que a amizade e (por que não?) o amor (não necessariamente o amor “romântico”) pode ter na vida de uma pessoa.
Aquelas palavras que apenas Charlotte e Harris guardam na memória. |
Enjoy the moment. |
Tenho ele em DVD (não sou refém dos streamings), mas ele está disponível para aluguel na Amazon (entre outras) e na Globoplay.
Curiosidades: ganhou o Oscar de melhor roteiro original, mas também foi indicado nas categorias: melhor filme, melhor diretor e melhor ator. Além disso, faturou cinco prêmios no Globo de Ouro (entre eles melhor ator e melhor filme - comédia), além primeira indicação da jovem Scarlett Johansson (despontado de vez para a fama).
P.S. Há alguns anos eu escrevi aquilo que eu acredito que Bob disse para Charlotte. É claro que é mera especulação, mas compartilho em off com quem quiser.
Bob. O eterno Bob Harris.
Te amarei e entenderei eternamente, Charlotte...
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