“O essencial é invisível aos olhos.”
“É triste esquecer um amigo. Nem todo mundo tem um amigo.”
“É preciso suportar uma ou duas larvas se quiser conhecer as borboletas.”
Quantas vezes você leu ou já ouviu essas frase por aí? Centenas, milhares de vezes, pois já fazem parte do inconsciente coletivo. São algumas das frases do emblemático clássico infantil “O Pequeno Príncipe”. Bom, muito longe de ser infantil. Mas por que esse livro, mesmo depois de quase 80 anos, continua tão celebrado, tão amado mundo afora? Farei uma pequena análise sobre a obra e sobre a influência que ela gera até hoje.
Lançado em 1943 pelo escritor/aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, a história é um tanto autobiográfica (mais detalhes abaixo, quando falarei especificamente sobre a vida do autor).
Particularmente, tenho uma história pessoal com este livro. Li pela primeira vez quando tinha 8, 9 anos de idade, pegando emprestado na biblioteca do meu colégio, e fiquei encantado desde então. Creio que já foram pelo menos umas 7 vezes, a 8a foi na semana passada. Hoje é uma obra de domínio público, então foi publicada por várias editoras. É um livro curto (mas de valor inestimável) e muito barato.
SOBRE O AUTOR.
Antoine de Saint-Exupéry era um aviador francês, que foi supostamente morto em 1944, em uma ação dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Supostamente, uma vez que o mesmo saiu em uma missão secreta e nunca mais retornou (os restos de seu avião foram descobertos em 2004 na costa de Marselha, mas seu corpo nunca foi encontrado). Não teve tempo de vida para celebrar o sucesso de seu livro. Uma pena, sua história é irônica, como é a própria vida. Uma breve e trágica passagem pelo plano terrestre.
SOBRE A HISTÓRIA (RESUMIDA).
P.S.: Em respeito às pessoas que ainda não leram o livro (bom, ainda existem), não darei spoilers sobre a história em si, apenas citarei as partes mais importante dela
A história começa quando um aviador (que é o próprio autor, na minha visão) que está perdido no deserto do Saara, depois que seu avião teve uma pane. Certa noite, ele é acordado por um menino louro, pedindo-lhe:
- Por favor… Desenha-me um carneiro!
Atônito, o aviador (cujo nome nunca é revelado) começa uma jornada pela vida, ao lado do misterioso menino. Logo o aviador deduz que o menino não era da Terra, mas sim em um pequeno corpo celeste, o Asteroide B 612, que era pouco maior que o próprio menino. Mas o menino não respondia nenhuma pergunta do aviador, só revelava alguma coisas nas conversas que tinham. Descobrimos que o menino fugiu de seu planeta, por causa da coisa que mais amava: sua (vaidosa) rosa. Visitando vários planetas, conhece vários (e excêntricos) tipos de adultos: um rei orgulhoso, um vaidoso; um bêbado, um empresário; um simples acendedor de lampiões, um manobreiro (Organizador de trens) e um vendedor de pílulas.
***Esta edição que eu tenho é da Editora Harper-Collins, de 2018, e segundo informações da capa, é a tradução original de 1952 (e com as aquarelas originais do autor). Não tenho lembranças muito precisas de minhas leituras anteriores, mas nessa edição eu percebei que muitas frases hoje atribuídas a livro simplesmente não existem. Exemplos:
“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
“As pessoas constroem muros ao invés de pontes.”
São frases belíssimas, reflexivas, mas são mesmo do livro? Não as encontrei nesta edição. Se elas estão em outras edições do livro? Não sei dizer, não acredito, mas é fato que hoje em dia várias frases “impactantes” são disseminadas pela web, sendo atribuídas falsamente a certas personalidades. Quantos memes com esse tipo de frase, de algum ator ou atriz, cantor ou cantora, escritor ou escritora, você já recebeu em seu telefone?
Mas não importa, o que importa é o livro em si e as mensagens que ele transmite. Por mais que algumas frases tenham se perpetuado no mundo todo, o que importa é a jornada, aquilo que o autor brilhantemente quis transmitir.
SOBRE A HISTÓRIA (CONTINUAÇÃO).
Após magoar-se com sua vaidosa rosa, o principezinho foge de seu planeta e começa viajar por outros planetas, encontrando homens peculiares pelo caminho. Visita 5 outros pequenos planetas e, mesmo sem entender, passa por situações nas quais ficava clara da perda da sensibilidade do homem adulto, tão preocupado com os bens materiais (representados por um rei orgulhoso, por um vaidoso; por um bêbado; por um empresário; e por fim, um simples acendedor de lampiões). Todos eles carregavam tristeza em seus corações, pois viviam vidas sem sentido
Já no planeta Terra, ele depara-se com algo que ele não conhecia: a maldade que existe no mundo (representada pela serpente). Ao longo do caminho também depara-se com os adultos tristes, tais quais quanto os dos outros planetas: o manobrista e o vendedor de pílulas.
Mas o menino também conhece ainda mais o significado da palavra AMIZADE.
A AMIZADE
O menino e a raposa. |
Primeiro representada pela raposa, que já está no imaginário popular, e ela merece um parágrafo para ela. Para mim, as frases mais emblemáticas do livro são as dela. Exemplos.
“Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.
– O essencial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, para não se esquecer.
- Por favor… cativa- me!”
- Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas
- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”
E em segundo lugar então veio o aviador, que narra o livro. E este, com a raposa, representa a verdadeira AMIZADE. A amizade representada pela tristeza da raposa, quando o principezinho precisou partir. A tristeza do aviador, quando seu pequeno amigo desapareceu (“É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigos.”). São tocantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O parágrafo final talvez seja um dos mais emocionantes de todos os livros já publicados. Aliás, se você leu o livro com atenção, é certo que lágrimas caíram de seus olhos. Eu lembro que chorei quando li pela primeira vez, e chorei novamente da última vez.
Saint-Exupéry criou uma obra muito pessoal na qual ele, como o aviador como sempre foi, é o próprio aviador do livro. E nessa obra ele demonstra que ninguém é melhor do que ninguém, somos todos farinha do mesmo saco (para mim isso fica muito claro quando o avião cai no deserto. Somos todo grãos), mas que cada um ganha sua importância quando cativa outra pessoa.
Em tempos tão irracionais como os nossos, uma obra ATEMPORAL como “O Pequeno Príncipe” serve ainda mais para cada um de nós, pois a principal mensagem que carrega é poderosa: dê valor ao que realmente importa. Deixe de lado sua ambição e aprenda a dar valor ao mais importante: à sua família, às suas amizades.
Seja como o principezinho: verdadeiramente humano. Descubra ou reviva a criança que vive dentro de cada um. A criança que enxerga o mundo com inocência, que não se corrompeu com o tempo. A criança que enxerga a e pratica a bondade inerente ao ser humano, e que sabe o quão e bom amar o próximo.
P.S.: quer dar um presente para uma criança já alfabetizada, mas está sem ideia? Pois até os adultos adorariam. Fica a dica.
Seja luz em tempos tão sombrios.
Paz e luz a todos.