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quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Meu conto de Natal - Um natal tal que qual

 

Um continho de Natal


      Amigos e amigas, conhecidos(os) e desconhecidas(os), curiosas(os), como vão??? Já estão no espírito natalino???

    Bom, eu não pretendia criar nenhum post sobre o Natal, porque eu sofro de uma espécie de depressão, uma melancolia constante nesta época (alguém mais sofre com isso??? Creio que sim), e opto por um certo recolhimento. Mas na noite passada tive um sonho, e quem me conhece um pouco mais sabe que os meus sonhos são as matérias-primas para muitos textos que escrevo. 

Eu sonhei com a Mamãe Noel!

       Brincadeira, mas eu sonhei com uma mulher idosa, com cabelos muito brancos e com uma bondade muito semelhante a do Papai Noel. No meu sonho, ela conversava com um homem com uma aparência muito pobre, e ela estregava uma chave para ele. Ele perguntou que chave era aquela e ela respondeu que era o presente de Natal dele: uma casa. Não lembro de mais nada.

    Mas aquilo fico na minha cabeça e peguei meu caderno de anotações. Escrevi tudo aquilo que eu lembrava, até que em certo momento eu pensei “esse sonho poderia dar uma boa história de Natal”. comecei a escrever à tarde e só terminei à noite, quando já era dia 18.

    E aqui está a história de José, Maria, Jeremias e Magdalena, e a história destes personagens acontece em uma noite de Natal. Você pode até imaginar que são personagens fictícios, mas assim como dizia um dos meus mestres (um desconhecido chamado Gabriel García Márquez), a minha ficção é baseada em histórias e pessoas reais.

    Assim como em “O pequeno vendedor de rosas” (https://www.amazon.com.br/pequeno-vendedor-rosas-Ricardo-Furlan-ebook/dp/B0DPHF299H), espero que meu conto desperte em você o espírito de solidariedade que muitas vezes (mas em alguns, nunca apareceu) só surge nas festas natalinas, mas que deveria ser algo recorrente em nossas vidas. Amar o próximo, como disse o grande aniversariante do dia 25.

Tenham um ótimo Natal, e nunca se esqueçam que o Menino Jesus é o único e verdadeiro, aquele que veio para unir e ensinar a amar.

Que a paz e a luz de Jesus entre nas vidas de todos aqueles que Nele creem e que leram as minhas palavras. 


Um Natal tal e qual.

     Com um sorriso triste, José despediu-se da família naquela véspera de Natal.

    — Feliz Natal, papai — disse o menino de nove anos, quase.

    — Feliz Natal, meu filho. Amanhã o pai tá aqui e a gente comemora, tá bem?

    — Tá, pai. Vai com Deus.

   — Tudo bem. Pai, não esquenta não, a gente vai ficar bem. É só um dia como qualquer outro — afirmou sua esposa,

    Maria chamava-o carinhosamente de pai. Ela também estava triste por passar mais uma noite de Natal sem a presença do marido. Ele só balançou a cabeça e saiu, já era noite e ele precisava caminhar 10 km até o condomínio Monte Santo, onde trabalhava como porteiro há dez anos.

     José recebia vale-transporte em dinheiro, fazia seu trajeto diário a pé todos os dias para economizar e assim complementar o salário mínimo que recebia. Ele tinha uma esposa adoentada e um filho pequeno para alimentar. Mas as varizes nas pernas estavam aumentando muito, era uma herança nada agradável que José recebeu de seu pai, Severino. José procurou atendimento da rede pública, mas o tratamento foi ineficaz e os medicamentos de que necessitava nunca estavam disponíveis para ele. Sem condições para o tratamento, José penava para dar o mínimo de conforto para sua família.

     E lá estava ele novamente, em mais uma noite solitária de 24 de dezembro. Ele estava sentado na portaria, olhando os poucos veículos que passavam pela rua e pensando nas famílias em festas, nos perus, nos “tios do pavê”. Ele tentava não pensar em sua família (e também era noite de Natal), quando um rapaz entrou no recinto.

    — Boa noite, Zé. Tudo bem? A vó tá te chamando lá no escritório.

    — Boa noite, seu Augusto. Tá tudo bem. Mas não posso sair daqui não.

    — Hahaha! Zé, pode parar de me chamar de “seu Augusto”. O senhor me conhece desde criança e eu te chamo de Zé desde sempre, tá mais do que na hora de me chamar de Guto. Pode ir lá que eu cuido aqui para o senhor, qualquer coisa, leva o rádio que eu te chamo. Beleza?

    José sorriu e respondeu:

    — Se o patrão diz, tá dito.

    — Patrão… fala sério, Zé! E vai lá que a vó tá te esperando.

    Um pouco desconfiado, José dirigiu-se até o pequeno escritório, que ficava localizado em uma sala anexa ao salão de festas do suntuoso condomínio residencial. Várias teorias passavam pela sua mente, mas a que mais o apavorava era aquela na qual ele receberia notícia da sua demissão.

    — Licença, dona Magdalena, a senhora me chamou? — anunciou José, com nervosismo.

    — Boa noite e feliz Natal, José. Sente aqui comigo, precisamos ter uma conversa séria.

    José ficou ainda mais desconfiado e seu coração batia de forma mais acelerada. Sentou-se, apreensivo.

    — Zé, quantos anos que você trabalha aqui na portaria?

    — Acho que uns 9, 10 anos, dona Magdalena.

    — Um bom tempo. E você está contente com o emprego?

    Ele gelou. — Sim, sim, dona Magdalena. Eu adoro, todo mundo me trata bem, o serviço é tranquilo.

    — Mas você ganha uma miséria e tem uma esposa e filha pra criar. Maria e Jeremias, não é?

    — Sim, mas a gente se vira, dona. É a vida.

    — E como é a vida lá no teu bairro? Vila Nova, não é?

    Ele gelou novamente. Quando ele já era morador de uma comunidade e estava desempregado, uma moça ofereceu-se para criar um Curriculum Vitae, mas disse que precisaria incluir um endereço fictício em um bairro considerado bom. Seria muito arriscado incluir o endereço de um barraco de favela, então no CV estava uma pequena mentira.

    — É, é bom sim.

    — E a padaria do Alfredo ainda existe? — Magdalena o encarava.

    José nunca soube da existência da padaria do Alfredo. — Sim, sim, o pão deles é muito bom, dona — mas ele ficou desconfortável com aquela mentira.

    — Certo, certo. E sua esposa, está bem? Soube que ela estava doente. E teu filho?

   — A Maria estava doente, ela tem uma anemia que vai e volta, mas agora tá bem. E o Jeremias tá bem, passou de ano, só tira nota boa.

    — Que bom saber, Zé.

  — Mas dona Magdalena, por que a senhora me chamou aqui? Se fosse só pra bater papo, não precisava me chamar aqui, era só ir lá na portaria. Sei que o Augusto tá lá, mas ele não precisa ficar lá todo esse tempo, é o meu trabalho.

    — Não esquenta com o Guto não, ele não vai sair de casa hoje. E não te chamei só pra bater papo com você, Zé. Era pra te contar uma mudança que faremos aqui. Grandes mudanças, na verdade.

    Aquilo que era uma especulação tornou-se uma certeza na mente do porteiro. Um pesadelo justamente na noite de Natal.

    — Dona Magdalena, por favor, não me manda embora, não me mande embora. Eu tenho um filho pequeno pra criar e a Maria tá sempre doente. Eu ganho pouco, mas é o nosso ganha-pão! — o desespero tomou conta dele.

    Magdalena, uma senhora idosa de cabelos tão brancos quanto as barbas do Papai Noel, levantou-se e foi até José. Ele nem teve tempo de se esquivar do abraço forte que recebeu da síndica.

    — Zé, e quem te disse que vai perder o emprego?

    — Ninguém, dona Magdalena, mas eu juro que depois de tudo isso que a senhora me falou, eu achei que já não tinha mais emprego. Mas agora não estou entendendo mais nada!

    — Não coloque o carro na frente dos bois, meu querido. Calma, toma um café, acabei de trazer lá de casa, já vou te explicar tudinho.

    — Tá bom, dona Magdalena — ele pegou uma caneca ornada com renas e então serviu-se de café.

    — Mais calmo, meu filho?

    — Sim.

    — Zé, ninguém gosta de mentiras, mas algumas são necessárias. Você mentiu, mas por uma boa causa: sobrevivência.

    Ele apenas balançou a cabeça, admitindo seu erro.

    — Eu sei que vocês não moram no Vila Nova, nunca moraram, mas sim na comunidade. Eu te entendo e nem penso nisso como uma mentira, uma traição.

    José perdeu o medo de Magdalena e justificou seus atos.

    — Perdão, dona Magdalena, mas eu tava em uma situação desesperadora. A Maria grávida e eu sem um quilo de farinha em casa, nem pra fazer um pirão…

    A confissão sincera do porteiro surtiu um efeito imediato na idosa. Ele levou um tempo para se recompor e continuar seu raciocínio.

    — Mas eu sei de muitas verdades terríveis que você nunca quis nos contar: que caminha 20 quilômetros todos os dias pra vir trabalhar, porque precisa do dinheiro do vale-transporte pra complementar a renda; que está sofrendo muito com as suas varizes e com a situação da Maria. E que você é analfabeto também.

    José não sabia que Magdalena sabia tanto da vida dele, mas teve certeza de que ela não sabia de tudo. Abaixou a cabeça e ficou em silêncio, até despejar palavras com a voz embargada.

    — Desculpa pelas mentiras, dona Magdalena.

   — Zé, você não precisa pedir desculpas para ninguém. Quem precisa pedir desculpas pra você é o mundo, que não te deu oportunidades como as que eu tive, as pessoas que moram aqui no condomínio. O mundo bateu demais em você, o mínimo que poderia ter feito era revidar um pouco.

    — Acho que a sinhora sabe que eu e a Maria viemos lá da roça, só com uma trouxinha de roupa debaixo do braço.

    — Sim, só não sei dos detalhes. Mas sei até que vocês moraram debaixo do viaduto por um tempão. Quer dizer, morar não é bem a palavra certa. Vocês sobreviveram.

    — Sobrevivemos. Se não fosse a mão de Deus naquela noite, lá debaixo do viaduto, eu não tava aqui falando com a senhora…

    Magdalena arregalou os olhos.

    — Meu amigo, pode desabafar comigo.

    — Vou contar uma coisa pra senhora, só porque a senhora é um pessoa muito boa. Teve uma noite lá debaixo do viaduto que passaram atirando, a gente nem sabia se era coisa de bandido, de polícia, e uma pessoa morreu. Tenho pesadelo até hoje com isso, dona…

    — Meu Deus...

   — Naquele dia eu resolvi que não dava mais pra ficar lá e peguei a Maria, acabamos na favela. Lá tem gente de todo tipo: geste de bem e trabalhadora, mas também muito bandido. E assim a gente vai levando.

    Magdalena estava com lágrimas nos olhos.

    — Meu Deus, Zé! Disso eu não sabia! Mas não quero te enrolar mais, preciso te contar. Senta e relaxa.

    — Dona Magdalena, já que a senhora insiste, vou beber mais um cafezinho.

    — Zé, já estamos planejando isso há um bom tempo, mas achamos que a melhor hora para te contar seria agora. Nós aqui do condomínio nos unimos por sua causa, pela sua família e resolvemos tomar algumas atitudes. Financiamos aquela casinha verde, que fica aqui perto, sabe? Aquela que estava caindo aos pedaços, mas reformamos e agora ela é sua, e você vai pagar o financiamento dela com o aumento salarial que os condôminos aprovaram. Não se preocupe, as prestações são bem baixas.

    Ele quase não acreditava no que ouvia.

    — Nunca imaginei isso, dona. É muita bondade, não sei nem como agradecer!

  — Calma, o pacote ainda não está completo. No mês que vem você vai em um especialista e resolvemos o problema de uma vez por todas. Vamos fazer um check-up na Maria também, e nós vamos arcar com todas as despesas. Sobre o Jeremias, pensamos em arcar com os custos de um curso de línguas para ele e, quando ele estiver em idade para estudar para os vestibulares, arcar com os custos do melhor cursinho pré-vestibular da cidade. Pode ser, meu caro José?

     José, o homem cuja humildade e benevolência obrigaram-no a levar uma vida de muitas dificuldades, estava em um estado de quase transe diante de tantas bençãos que estava prestes a aceitar. Apenas fez que sim com a cabeça e seus olhos estavam vermelhos de tanto segurar as lágrimas que insistiam em cair.

     Com um olhar carinhoso de uma mãe oferece a um filho, Magdalena respondeu:

    — Que bom Zé, mas temos uma única condição.

    — Condição?

    — Sim, condição. Vai fazer uma coisa por nós e pra você também: queremos você aceite receber aulas da professora Giuliane, porque ela quer ver você alfabetizado e eu também. Ela e eu queremos esta vitória pessoal sua, porque aprender a ler e escrever pode abrir muitas portas, você pode retomar seus estudos e com isso terá mais oportunidades na vida. Nós somos muito abençoados por termos você como porteiro, mas sabemos que dentro de você há uma pessoa que pode ser muito mais do que um porteiro.

    — Mas eu gosto de ser porteiro, dona Magdalena.

    — Zé, Zé, nosso pedido não é nenhum sacrifício pra você, não é?

    — Não é não, dona Magdalena. Eu não sei falar bem, a sinhora sabe que eu nunca estudei, mas minha finada mãezinha sempre ensinou que quem ajuda os outros já tem lugar guardado no céu, e o da senhora já está reservado. A dona Eulália falava pouco, mas tudo o que ela falava era ouro puro.

    — Obrigado, Zé. Mas eu ainda não sei se mereço. Só estamos tentando colocar um pouco de justiça nesse mundo injusto.

    — Merece muito, dona Magdalena, eu sei disso. A senhora não sabe, mas hoje é o melhor dia da minha vida, só posso agradecer a Deus por ter colocado uma pessoa como a senhora na minha vida, uma pessoa que me viu como gente.

    — Meu amigo José, essa velha aqui vem aqui te pedir desculpas por não ter te enxergado por tanto tempo.

    — Não precisa se desculpar por nada, dona Magda. Mas eu preciso voltar pro trabalho, eu ainda preciso trabalhar.

    — Claro, Zé. Saiba que você está aqui há tanto tempo devido ao seu profissionalismo. Mas antes eu preciso da sua opinião sobre uma mudança que queremos fazer no salão de festas, só vai levar um minutinho. Pode ser?

    — Que é isso, dona Magdalena, quem sou eu pra da opinião? Mas vamos lá.

    — Você é o José Carlos dos Santos Silva, nosso porteiro querido, meu amigo. Agora fica quieto e me acompanha até lá agora, a sua opinião será mais importante do que a de qualquer outra pessoa.

    Magdalena levantou-se e foi até a porta do salão de festas. Lá dentro dominava a escuridão.

    — Pode entrar primeiro e acender as luzes? Sou meio medrosa ainda.

    — Claro, não tem problemas. Pode passar as chaves que eu entro.

    Ele recebeu o molho de chaves, abriu a porta e procurou os interruptores. Quando acendeu as luzes, viu uma multidão amontoada em um canto e elas começaram a gritar: “Zé, Zé, Zé, Zé, Zé, Zé”.

    Jeremias veio correndo ao encontro do pai, ainda mais atônito.

    — Papai, feliz Natal! Olha aqui o que eu ganhei! — era uma mochila escolar enorme, recheada de livros novinhos em folha, além de um kit de ciências (e que era um sonho distante de Jeremias).

    — Que legal. Feliz Natal, meu filho — ele pegou o filho e o levantou. — A mamãe tá aqui?

    — Tá sim, olha ela lá falando com a tia Magdalena — Jeremias apontou para as duas mulheres, que conversavam animadamente. — Sabia que a mamãe ganhou uma máquina de costura novinha da tia?

    Na manhã do Natal, José manteve o mesmo ritual dos anos anteriores. Vestiu seu traje improvisado de Papai Noel e foi distribuir os doces e brinquedinhos para as crianças carentes da comunidade, comprados com o dinheiro do 13º salário (mas desta vez na companhia de Magdalena, Augusto, Giuliane e de outros moradores do condomínio). Enquanto caminhavam juntos pelas ruas enlameadas, a alegria inocente das crianças refletia nos olhos de todos.

    Ao final do dia, ao ver o sorriso no rosto de cada criança e o brilho de gratidão nos olhos dos amigos, o porteiro sentiu seu coração aquecido. Naquele momento, ele percebeu que o verdadeiro espírito do Natal não estava nos presentes, nas festas extravagantes, mas no amor e na união que compartilhavam. Com lágrimas de felicidade, ele acariciava os cabelos de seu filho no sofá velho, enquanto sentia o incomparável cheiro do bolo de laranja que Maria assava no forno do fogão carcomido pelo tempo.

    Ele teve uma certeza: estava no melhor lugar do universo.

 

 Ricardo Furlan, 18/12/2024.


#ChristmasCountDown #ChristmasTradition #ChristsBirth #Natal #Jesus #Cristo

 


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domingo, 19 de fevereiro de 2023

Crítica: O pior vizinho do mundo ("A man called Otto").

    Pessoal, uma dica de lazer para esse feriado de Carnaval: (e para quem não gosta de folia e prefere outro tipo de divertimento: CINEMA. Aqui falarei sobre o surpreendente "O pior vizinho do mundo" ("A man called Otto", título original). SEM SPOILERS, agora vou dar minhas pinceladas sobre esse longa-metragem fabuloso.



     Otto (Tom Hanks) é um homem amargurado e enlutado após a morte da esposa Sonya, tentando isolar-se de tudo e de todos a qualquer custo, um homem que havia desistido da vida (sem entrar em muitos detalhes, a situação de Otto era apavorante, há muita agonia em cena). No entanto, a vida de Otto vira de cabeça para baixo quando uma família (duas meninas, o pai - um tanto atrapalhado - e uma esposa grávida - Marisol) muda-se para o problemático condomínio residencial de Otto, para uma residência justamente em frente à casa do idoso. Cria-se então uma estranha relação de amizade entre Otto e os demais integrantes da família de Marisol. Marc Forster (diretor de filmes emocionantes como “O caçador de pipas” e “Em busca da Terra do Nunca”) foi extremamente feliz em focar no arco emocional de Otto sem exageros e com diálogos pouco expositivos, optando por inserções de flashbacks (o filho de Tom Hanks,Truman Hanks, interpreta  o Otto na juventude, juntamente com a belíssima atriz Rachel Keller)  certeiros, tornando ainda mais fácil a conexão dos personagem com o espectador.

Tom Hanks, Truman Hanks (filho e intérprete de Otto jovem) e Rita Wilson (esposa e produtora executiva do filme).

Sonya (Rachel Keller), em uma das cenas mais tocantes do filme.

    Eu sei que quando fala-se o nome de Tom Hanks é quase inevitável que venha à mente a imagem de um personagem simpático, bem humorado, como como fomos acostumados desde os primeiros filmes dele lá da década de 80. Mas, quer saber: ESQUEÇA esse estereótipo de personagem, pois aqui ele é completamente oposto. A rabugice de Otto é um dos grandes atrativos do longa. Mas apesar da presença do astro Tom Hanks, quem rouba mesmo a cena é a atriz Mariana Treviño, a intérprete de Marisol. Confesso que essa atriz até então desconhecida é um dos grandes trunfos do filme do diretor (ainda é muito cedo, mas é quase certo que será indicada a muitos prémios por sua brilhante atuação.


Mariana Treviño, atriz de ascendência mexicana que brilha no longa 
de Marc Forster.

     "O pior vizinho do mundo" é a garantia de uma história tocante  e que arrancará sorrisos e lágrimas, assim como aconteceu comigo e com as outras pessoas que estiveram comigo na sala do cinema. "O pior vizinho do mundo" não é só um filme, mas uma experiência. 

    Em uma época tomada por uma enxurrada de filmes de super-heróis, filmes como esse são exemplos genuínos de que o frequentador do cinema está um pouco cansado, nós queremos é ver mais e mais histórias bonitas e verdadeiras (e quanto mais humanas possível). Menos porrada e bomba, isso cansa.

Marisol (Mariana Treviño) e Otto (Tom Hanks).

Otto e a improvável afeição às adoráveis filhas de Marisol.


    P.S.: não contei que esse filme é uma refilmagem norte-americana de um filme sueco chamado “Um homem chamado Ove”, de 2015, e que agora chega às livrarias brasileiras em formato de livro de mesmo nome. É tão bonito e marcante quanto essa nova versão (apesar das mudanças entre os dois longas). Infelizmente no momento não está disponível em streamings como Netflix, Amazon Prime ou HBO Max, apenas via aluguel (Youtube, Claro Video), mas se alguém quiser alugar eu garanto que vale o investimento.
 


Otto e um dos grandes (e carismáticos) personagens do filme: o gato de rua.

    

    Surpreenda-se com uma história tocante e com a versatilidade de Tom Hanks. Dou nota 5/5. Fica aqui minha dica para o Carnaval de vocês (especialmente para quem não gosta de badalação).

        Se puder, vá ao CINEMA


Até a próxima, terráqueas e terráqueos. Juízo hein.

sexta-feira, 11 de março de 2022

Revisitando "O Pequeno Príncipe".


“O essencial é invisível aos olhos.”


“É triste esquecer um amigo. Nem todo mundo tem um amigo.”


“É preciso suportar uma ou duas larvas se quiser conhecer as borboletas.”


    Quantas vezes você leu ou já ouviu essas frase por aí? Centenas, milhares de vezes, pois já fazem parte do inconsciente coletivo. São algumas das frases do emblemático clássico infantil “O Pequeno Príncipe”. Bom, muito longe de ser infantil. Mas por que esse livro, mesmo depois de quase 80 anos, continua tão celebrado, tão amado mundo afora? Farei uma pequena análise sobre a obra e sobre a influência que ela gera até hoje.


    Lançado em 1943 pelo escritor/aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, a história é um tanto autobiográfica (mais detalhes abaixo, quando falarei especificamente sobre a vida do autor).


    Particularmente, tenho uma história pessoal com este livro. Li pela primeira vez quando tinha 8, 9 anos de idade, pegando emprestado na biblioteca do meu colégio, e fiquei encantado desde então. Creio que já foram pelo menos umas 7 vezes, a 8a foi na semana passada. Hoje é uma obra de domínio público, então foi publicada por várias editoras. É um livro curto (mas de valor inestimável) e muito barato.


SOBRE O AUTOR.

    Antoine de Saint-Exupéry era um aviador francês, que foi supostamente morto em 1944, em uma ação dos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Supostamente, uma vez que o mesmo saiu em uma missão secreta e nunca mais retornou (os restos de seu avião foram descobertos em 2004 na costa de Marselha, mas seu corpo nunca foi encontrado). Não teve tempo de vida para celebrar o sucesso de seu livro. Uma pena, sua história é irônica, como é a própria vida. Uma breve e trágica passagem pelo plano terrestre.



SOBRE A HISTÓRIA (RESUMIDA).

    P.S.: Em respeito às pessoas que ainda não leram o livro (bom, ainda existem), não darei spoilers sobre a história em si, apenas citarei as partes mais importante dela


    A história começa quando um aviador (que é o próprio autor, na minha visão) que está perdido no deserto do Saara, depois que seu avião teve uma pane. Certa noite, ele é acordado por um menino louro, pedindo-lhe:

- Por favor… Desenha-me um carneiro!

    Atônito, o aviador (cujo nome nunca é revelado) começa uma jornada pela vida, ao lado do misterioso menino. Logo o aviador deduz que o menino não era da Terra, mas sim em um pequeno corpo celeste, o Asteroide B 612, que era pouco maior que o próprio menino. Mas o menino não respondia nenhuma pergunta do aviador, só revelava alguma coisas nas conversas que tinham. Descobrimos que o menino fugiu de seu planeta, por causa da coisa que mais amava: sua (vaidosa) rosa. Visitando vários planetas, conhece vários (e excêntricos) tipos de adultos: um rei orgulhoso, um vaidoso; um bêbado, um empresário; um simples acendedor de lampiões, um manobreiro (Organizador de trens) e um vendedor de pílulas.



    ***Esta edição que eu tenho é da Editora Harper-Collins, de 2018, e segundo informações da capa, é a tradução original de 1952 (e com as aquarelas originais do autor). Não tenho lembranças muito precisas de minhas leituras anteriores, mas nessa edição eu percebei que muitas frases hoje atribuídas a livro simplesmente não existem. Exemplos:

Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”

As pessoas constroem muros ao invés de pontes.”

    São frases belíssimas, reflexivas, mas são mesmo do livro? Não as encontrei nesta edição. Se elas estão em outras edições do livro? Não sei dizer, não acredito, mas é fato que hoje em dia várias frases “impactantes” são disseminadas pela web, sendo atribuídas falsamente a certas personalidades. Quantos memes com esse tipo de frase, de algum ator ou atriz, cantor ou cantora, escritor ou escritora, você já recebeu em seu telefone?

    Mas não importa, o que importa é o livro em si e as mensagens que ele transmite. Por mais que algumas frases tenham se perpetuado no mundo todo, o que importa é a jornada, aquilo que o autor brilhantemente quis transmitir.


SOBRE A HISTÓRIA (CONTINUAÇÃO).





    Após magoar-se com sua vaidosa rosa, o principezinho foge de seu planeta e começa viajar por outros planetas, encontrando homens peculiares pelo caminho. Visita 5 outros pequenos planetas e, mesmo sem entender, passa por situações nas quais ficava clara da perda da sensibilidade do homem adulto, tão preocupado com os bens materiais (representados por um rei orgulhoso, por um vaidoso; por um bêbado; por um empresário; e por fim, um simples acendedor de lampiões). Todos eles carregavam tristeza em seus corações, pois viviam vidas sem sentido

    Já no planeta Terra, ele depara-se com algo que ele não conhecia: a maldade que existe no mundo (representada pela serpente). Ao longo do caminho também depara-se com os adultos tristes, tais quais quanto os dos outros planetas: o manobrista e o vendedor de pílulas.


    Mas o menino também conhece ainda mais o significado da palavra AMIZADE.


A AMIZADE

O menino e a raposa.


    Primeiro representada pela raposa, que já está no imaginário popular, e ela merece um parágrafo para ela. Para mim, as frases mais emblemáticas do livro são as dela. Exemplos.

Adeus - disse a raposa. - Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.

O essencial é invisível aos olhos – repetiu o principezinho, para não se esquecer.


- Por favor… cativa- me!”


- Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas


- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”

    

    E em segundo lugar então veio o aviador, que narra o livro. E este, com a raposa, representa a verdadeira AMIZADE. A amizade representada pela tristeza da raposa, quando o principezinho precisou partir. A tristeza do aviador, quando seu pequeno amigo desapareceu (“É triste esquecer um amigo. Nem todo o mundo tem amigos.”). São tocantes.


CONSIDERAÇÕES FINAIS.

    O parágrafo final talvez seja um dos mais emocionantes de todos os livros já publicados. Aliás, se você leu o livro com atenção, é certo que lágrimas caíram de seus olhos. Eu lembro que chorei quando li pela primeira vez, e chorei novamente da última vez.

    Saint-Exupéry criou uma obra muito pessoal na qual ele, como o aviador como sempre foi, é o próprio aviador do livro. E nessa obra ele demonstra que ninguém é melhor do que ninguém, somos todos farinha do mesmo saco (para mim isso fica muito claro quando o avião cai no deserto. Somos todo grãos), mas que cada um ganha sua importância quando cativa outra pessoa.

    Em tempos tão irracionais como os nossos, uma obra ATEMPORAL como “O Pequeno Príncipe” serve ainda mais para cada um de nós, pois a principal mensagem que carrega é poderosa: dê valor ao que realmente importa. Deixe de lado sua ambição e aprenda a dar valor ao mais importante: à sua família, às suas amizades.

    Seja como o principezinho: verdadeiramente humano. Descubra ou reviva a criança que vive dentro de cada um. A criança que enxerga o mundo com inocência, que não se corrompeu com o tempo. A criança que enxerga a e pratica a bondade inerente ao ser humano, e que sabe o quão e bom amar o próximo.


P.S.: quer dar um presente para uma criança já alfabetizada, mas está sem ideia? Pois até os adultos adorariam. Fica a dica.





    Seja luz em tempos tão sombrios.


Paz e luz a todos.